A História dos Veículos Elétricos

Os veículos elétricos (VEs) não são uma invenção recente. Na verdade, sua história é tão longa quanto a dos carros a combustão interna. Das primeiras invenções do século XIX aos modernos modelos autônomos, a evolução dos VEs é uma prova da engenhosidade humana e de nossa busca contínua por soluções de transporte mais eficientes e limpas.

Frederico Haasis

11/25/20235 min ler

a white sports car is on display at a car show
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Os Primórdios da Eletricidade nas Ruas

A ideia de usar a eletricidade para impulsionar veículos surgiu no início do século XIX. Em 1828, o inventor húngaro Ányos Jedlik criou um pequeno modelo de carro elétrico. Pouco depois, na década de 1830, o escocês Robert Anderson desenvolveu uma carruagem elétrica, um dos primeiros veículos elétricos a bateria. Contudo, esses protótipos eram mais curiosidades científicas do que meios de transporte práticos, devido às limitações das baterias da época. Nessa mesma época, o motor de corrente contínua (DC) estava dando seus primeiros passos. Embora Michael Faraday tivesse demonstrado a relação entre eletricidade e movimento em 1821, foi o americano Thomas Davenport que, em 1837, obteve a primeira patente de um motor elétrico nos Estados Unidos (U.S. Patent No. 132). Davenport foi um visionário; ele não apenas criou um motor funcional, mas também o aplicou para impulsionar um pequeno modelo de carro sobre trilhos circulares já em 1835. Essa experiência é frequentemente citada como a primeira ferrovia elétrica em miniatura, demonstrando o potencial da eletricidade para a locomoção. Um outro marco importante foi em 1854, quando o francês Gaston Planté inventou a bateria de chumbo-ácido recarregável, um avanço crucial para o desenvolvimento de projetos de carros elétricos.

Foi no final do século XIX e início do século XX que os VEs começaram a ganhar destaque. Cidades como Nova Iorque e Londres viram táxis elétricos circulando, oferecendo um transporte silencioso e sem fumaça, um contraste bem-vindo aos barulhentos e poluentes veículos a vapor e, posteriormente, aos primeiros carros a gasolina. Ferdinand Porsche (sim, o fundador da famosa marca de carros esportivos!) também se envolveram no desenvolvimento de VEs, com Porsche projetando o Lohner-Porsche, um híbrido elétrico-gasolina em 1900! A facilidade de partida e locomoção dos VEs também foi um fator importante, já que os veículos a combustão exigiam um grande esforço físico para dar partida através de manivelas.

A Era de Ouro e o Declínio Temporário

No início do século XX, os VEs eram bastante populares, especialmente nos Estados Unidos, onde cerca de um terço dos carros eram elétricos, muitos fabricados pela Baker Motor Company. Na Europa, o mercado também estava aquecido, e o primeiro veículo híbrido comercial, o Lohner-Porsche, foi criado por Ferdinand Porsche. No entanto, a hegemonia dos VEs não durou muito.

A descoberta de grandes reservas de petróleo, o barateamento da gasolina e o advento da linha de montagem de Henry Ford com o Modelo T, que possuía uma revolucionária partida elétrica a partir de 1908, tornaram os carros a combustão interna muito mais acessíveis e eficientes para longas distâncias. As estradas, que antes eram inadequadas para os VEs de menor autonomia, começaram a ser pavimentadas, favorecendo os veículos a gasolina. Assim, por volta de 1920, os veículos elétricos entraram em declínio, com os veículos a combustão, principalmente a gasolina, ganhando o mercado.

O Renascimento Silencioso e a Era da Consciência Ambiental

Após aproximadamente 50 anos com os carros a combustão em foco, a crise do petróleo na década de 1970 trouxe uma nova perspectiva para os VEs. A dependência de combustíveis fósseis e a preocupação com a poluição do ar reacenderam o interesse em alternativas de transporte. No Brasil, durante esse período, surgiu o programa ProÁlcool (1968-1973), que iniciou o mercado de veículos movidos a etanol.

Diversas montadoras iniciaram pesquisas e desenvolvimento. A BMW lançou o primeiro veículo totalmente elétrico da marca durante os jogos olímpicos de 1972. No Brasil, o engenheiro João Gurgel criou a primeira fábrica de veículos elétricos 100% nacional, produzindo modelos como o Itaipu E150 em 1974, mas a falta de incentivos e tecnologias para baterias inviabilizaram a empresa.

O Século XXI e o Impulso Final

No início do século XXI, modelos como o Toyota Prius começaram a ser produzidos em massa, retomando a procura por veículos elétricos e híbridos. Diversas empresas e startups surgiram com a visão de uma mobilidade elétrica. A Tesla, em 2006, apresentou o protótipo do Roadster, lançado em 2008. Em 2008, a chinesa BYD entrou na corrida com os primeiros veículos híbridos plug-in, e a General Motors/Chevrolet anunciou o Volt em 2010. Em 2011, a Nissan apresentou o Leaf, um veículo totalmente elétrico.

Avanços significativos nas baterias de íon-lítio tornaram os VEs mais eficientes, com maior autonomia e tempos de recarga menores. A preocupação crescente com as mudanças climáticas e a busca por um futuro mais sustentável também impulsionaram essa transição.

Em 2015, um marco histórico impulsionou ainda mais a agenda dos VEs: o Acordo de Paris. Este tratado internacional, assinado por quase 200 países, estabeleceu metas ambiciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global. Dentro desse contexto, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) também ganharam força, com o ODS 7 (Energia Limpa e Acessível) e o ODS 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima) diretamente relacionados à adoção de tecnologias de transporte mais limpas.

O custo de produção das baterias também caiu drasticamente, de 1000 dólares em 2008 para 289 dólares em 2014, impulsionando ainda mais o mercado.

O Futuro Eletrizante

Hoje, os veículos elétricos estão mais presentes do que nunca, com um crescimento exponencial nas vendas a cada ano. Em 2023, empresas como BYD e GWM entraram no mercado brasileiro, trazendo veículos a preços mais acessíveis. Apesar da retomada do imposto de importação em 2024, o número de eletrificados nas ruas continua a crescer.

Estamos apenas no começo de uma nova era para os VEs, com inovações contínuas em baterias de estado sólido, carregamento ultrarrápido, e a integração com tecnologias de condução autônoma. A jornada do veículo elétrico, que começou com simples protótipos há quase dois séculos, agora nos leva a um futuro em que a eletricidade impulsiona não apenas nossos carros, mas também nossa esperança por um planeta mais saudável.

A Eletrizante Jornada dos Veículos Elétricos: Do Passado ao Futuro Sustentável

Ford Modelo T

Carro Elétrico Brasileiro

blue coupe parked beside white wall
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A close up of the trunk of a car
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